Seu ego será sua ruína. Claro que não pela
definição de Freud de que o ego é a parte
da psique que é consciente e que tem contato com a
realidade, então, primeiramente, vamos separar os conceitos adequados de “ego”
e “amor próprio” pertinentes* a essa análise.
Ego: a noção de si fundada no orgulho, na carência de auto-satisfação; um eu narcisista, derivado de uma imaturidade emocional, em que só se enxerga a si mesmo.
Amor próprio: a noção de si fundada na autoestima, na busca de uma
felicidade plena, sempre relacionada à empatia
e à racionalidade, que se coloca em primeiro lugar com
toda a consciência de que os outros têm o
direito de fazerem o mesmo.
Ou seja, a pessoa egocêntrica acaba
esquecendo que o outro tem que se preocupar com a própria felicidade também. A pessoa que tem amor próprio sabe disso, e sabe que mesmo que sua própria felicidade seja uma prioridade para si, a felicidade dos outros é tão importante quanto.
Isso é
mais fácil de se observar quando dentro de um relacionamento, principalmente
romântico.
Há a clássica ideia de que o amor verdadeiro é feito de sacrifício e nega o egoísmo.
A questão é que amar o outro significa que a felicidade do outro está diretamente ligada à sua, o
bem estar do outro ao seu. O egocêntrico leva o sacrifício ao pé da letra, achando que o relacionamento se baseia em uma dívida com o outro.
“Eu cuido da sua felicidade e você
cuida da minha”. É uma troca injusta. O egocêntrico
faz de tudo pelo outro quando diz que ama, às vezes
passando por cima da própria dignidade, achando que o outro tem de fazer o mesmo. Essa
expectativa destrói o relacionamento, porque se o outro não conseguir pagar a dívida da
mesma forma o egocêntrico se sente injustiçado, menos amado, tendo se doado
quando não houve a mesma doação em troca.
Não é assim que funciona. Você é responsável pela sua própria
felicidade. Não pode e nem tem o direito de esperar que o outro se
responsabilize pela sua felicidade.
No caso do amor, quando sua felicidade está diretamente relacionada à do
outro, você se doa ao outro porque isso também te faz feliz, não esperando algo em troca. O sacrifício é meramente simbólico, pois se sua felicidade está ligada à do outro, fazer qualquer coisa pelo
outro não é de fato um sacrifício, mas um
prazer. E quem tem amor próprio sabe que não
precisa passar por cima da própria dignidade pelo outro (alguém que te ama não vai
esperar isso de você, porque
também quer seu bem
estar).
O raciocínio do egocêntrico para em “minha felicidade vem primeiro”, enquanto deveria ser
“minha felicidade vem primeiro, da mesma forma que a dos outros deve vir para
cada um, portanto, trabalhar pela felicidade de todos engloba também a minha, e
eu não tenho direito de passar por cima da felicidade de ninguém”. Uma questão de lógica,
really...
E é
por essa falta de visão que o egocêntrico vai ser ciumento, possessivo, carente
de atenção, sem autoconfiança. Quando você só enxerga seu próprio umbigo e mesmo assim não consegue se responsabilizar pela sua própria felicidade, é desastre na certa.
Não que seja fácil se desvencilhar completamente do
egocentrismo, mas com certeza devemos tentar.
*Digo "pertinentes" porque
ego e amor próprio são essencialmente a mesma coisa, mas um é negativo e o
outro (por estar somado à razão e à empatia) é positivo.